sábado, janeiro 22, 2005

Tarifa de ônibus

O aumento da tarifa de ônibus em Londrina, que passou de R$ 1,60 para R$ 1,90 é a mais recente afronta do governo municipal aos trabalhadores e estudantes da grande Londrina.

O reajuste de quase 18% foi claramente premeditado e programado para após o período das eleições e durante o período de férias dos estudantes de Londrina. É interessante também, ver como o aumento anterior, de R$1,35 para R$ 1,60 (ou seja, um aumento menor), causou uma cobertura muito maior da mídia, justamente por causa dos protestos estudantis, chegando a envolver a promotoria pública da cidade de Londrina, e finalizando com uma fatalidade, a morte de um jovem londrinense durante o protesto.

O que nos deixa mais insatisfeitos (para não dizer irritados e bravios), é o simples fato, de que a faixa da população que utiliza o serviço, claramente prejudicada, não se mobiliza a fim de cobrar das autoridades responsáveis, as medidas necessárias. Mas aí é que entra a importância, de se perguntar o porquê do trabalhador não lutar por seus direitos, através de protestos e mobilizações. É verdade que em todas as entrevistas concedidas pelos usuários do transporte público aqui em Londrina foi constatado um descontentamento em relação ao reajuste.

É interessante se perceber como o trabalho, o emprego, são instrumentos de controle. Dentro de uma sociedade capitalista, é preciso ter uma fonte de renda, para se garantir moradia, alimentação, vestuário, saúde, educação, transporte e todas as outras coisas inerentes à uma existência digna e justa. Porém, é quase uma afronta, falar sobre tais coisas num lugar onde ainda existem mortes por inanição. A realidade, é que existe comida no mundo o suficiente para acabar com a fome de todos... O problema é a distribuição dela.

Mas voltando ao tema em questão, se o sujeito, por um motivo ou outro, perde seu emprego, (uma coisa não muito rara, uma vez que o número de desempregados é grande, possibilitando ao empregador contratar outra mão-de-obra quando não estiver mais satisfeito com a que se encontra à sua disposição) perde também sua fonte de renda, a coisa mais importante dentro de um contexto onde tudo gira em torno do dinheiro. Logo, ele fica sem ter acesso à todas as coisas já comentadas acima e necessárias ao ser humano, vendo assim, sua existência ameaçada. Então, o que ele faz para evitar o desemprego? Parece-me claro o bastante, que ele opta por atender a todas as exigências de seu empregador. Durante sua jornada de trabalho, portanto, ele "vende" o seu tempo, para tratar de assuntos que sejam do interesse de seu patrão, vendo-se inapto, portanto, a tratar de assuntos de seu próprio interesse, como por exemplo, a tarifa do ônibus que ficou mais cara, e que por isso compromete uma parcela maior da sua renda.

Outro importante fator, é a falta de disposição das pessoas em se unir a fim de conseguirem um objetivo em comum, uma atitude cada vez mais comum dentro de uma sociedade onde se prima pela individualidade, onde cada um tem de se preocupar com as suas necessidades.

Por esse prisma, torna-se fácil entender porque geralmente a classe trabalhadora, não se mobiliza a fim de conseguir modificar situações injustas como este exemplo do aumento da tarifa de ônibus na cidade de Londrina. E quanto aos estudantes, estes, que se dedicam à educação e à formação de um caráter, acabam por se tornar reflexo das exigências também do proletariado, já sabendo distinguir o certo do errado, numa questão que também lhes diz respeito.

E como pensar em justiça, numa sociedade onde o governo, apesar de ser do PT (o prefeito de Londrina, Nedson Luiz Micheleti), desfavorece a população, tomando medidas que só vem afetar ainda mais o bolso da população de baixa renda, que dispõe (isso, quando dispõe) de um salário mínimo que apresenta um poder de compra infame, enquanto os representantes da Câmara de Vereadores tem a possibilidade de votarem o aumento de seus próprios salários?

Ademais, é interessante perceber que os responsáveis por definir o valor da tarifa do ônibus, não utilizam esse serviço, vendo-se livres de qualquer tipo de prejuízo. Por mais que o executivo tenha sido escolhido pelo povo, suas decisões não parecem estar favorecendo os agentes causadores da sua permanência por mais 4 anos à frente da prefeitura de Londrina, ou seja: o povo.

Espero ouvir comentários dos nossos leitores em relação a este assunto. Não se esqueçam que um dos objetivos do nosso site é indagar e tentar compreender as mudanças que ocorrem em nossas vidas e cotidiano. Muito obrigado a todos.